domingo, 31 de julho de 2011

RESISTIR É PRECISO

26/07/2011 - 19h00
Rabino conta como viu pai ser espancado por nazistas


Na praça diante da sinagoga, sentia-se a tensão enorme na expectativa de todos os presentes na praça das expulsões. Em torno reinava um silêncio profundo e ameaçador. Repentinamente, o comandante da Gestapo de Piotrkow aproximou-se do meu pai, com um olhar assassino. Parou diante dele, sacou do cinto o seu maike, um porrete de borracha com um metro de comprimento, e fustigou com toda a força as costas do meu pai. Por causa da surpresa do golpe, desferido por trás, e de seu impacto, meu pai foi empurrado alguns passos à frente. Seu corpo se curvou para dentro, acachapado, parecia que estava para tombar. E então, em uma fração de segundo, ele se endireitou, deu um passo para trás e retornou ao lugar em que encontrava antes de receber o golpe. Ali ele permaneceu ereto, ocultando com forças supremas a dor física e a imensa humilhação. Eu pude ver meu pai se empenhando, com toda a sua capacidade, para manter o equilíbrio e não cair aos pés do alemão. Papai sabia que a sua queda causaria a quebra dos judeus da cidade e tentou a todo custo evitar isto.

Todos ao seu redor sabiam por que o alemão o fustigara. Os nazistas ordenaram que os judeus raspassem as barbas. Muitos dos judeus de Piotrkow se aconselhavam com papai se deviam cumprir a ordem, e sua resposta foi veemente: façam isto para se livrar do castigo. Mas consigo próprio ele foi rígido e manteve a barba e as peot, os cachos laterais, para preservar o respeito pela instituição rabínica da cidade e a tradição ancestral. Por causa desta sua desobediência, o porrete golpeou as suas costas.

Mas as pancadas tinham motivos adicionais. O comandante da Gestapo nazista escolheu maltratar justamente o meu pai também pelo fato de ele falar alemão fluentemente, assim como pelo fato de ser rabino da cidade. O meu pai era o representante dos judeus ante os alemães. Muitas instruções dos homens da Gestapo para os judeus de Piotrkow passavam por ele, assim como pedidos dos judeus para a Gestapo. Ele era uma figura respeitada na comunidade judaica. Espancá-lo e, principalmente, humilhá-lo, era, do ponto de vista dos alemães, muito mais do que espancar um judeu. Isto tinha um grande significado simbólico.

Ficha técnica
Título: Lúlek – A história do menino que saiu do campo de concentração para se tornar o Grão- Rabino de Israel
Autor: Rabino Israel Meir Lau
Páginas: 524
ISBN: 978-85-7358-982-5
Valor: R$59,90

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