domingo, 22 de agosto de 2010
N. S... foi na conjuntura oriunda deste evento q demoliu o coronelismo, como tb ajudou a fazer o Governador Lucas Nogueira Garcez (1951-1955) :()
Nhõ Mingo Nogueira (1852 - 23/10/1950)- o "veio" civilizador: faleceu assim q o prof. Lucas Nogueira Garcez fora eleito governador de SP após contagem de votos,dia da eleição em 03/10/1950. Missão cumprida! Amém. :)
Foto (1)
Didi Moscardini (Piracaia 1886-1971 Joanópolis) e Julieta (Joanópolis 1892-1972 São Paulo)
Rivalidades - Joanópolis SP
A história que se segue,[2] ilustra, ao mesmo tempo, a realidade em que as duas gerações viviam na década de 1920, e revela a revolta de ambos contra um sistema político e social da época na região.
No mesmo tom em que Didi (Moscardini) contava suas histórias, eis agora esta nas palavras de seu filho. Dito sorri ao lembrar-se do que lhe acontecera cerca de setenta anos atrás (relato documentado na década de 1990). Este episódio meio dramático envolveu dois antigos moradores de Joanópolis. Dito iniciou o relato de sua história, que foi toda gravada.
Nhõ Mingo Nogueira (Domingos José Nogueira) era um homem de idade, bom, pacato, honesto. Ele costumava sentar-se numa cadeira à porta de sua casa durante horas a fio. O coronel Figueiredo era o chefe político do lugar. Os dois andavam encrencados por questões políticas.
Naquela ocasião, eu ainda era moleque, mas já andava armado. Para que eu pudesse acompanhar meu pai à caça, ele me colocou arma na mão e me ensinou a atirar quando eu tinha meus dez anos de idade. Com treze, quatorze anos, eu já andava com um bom 38, com dezesseis, eu já atirava bem e escorava quem viesse…Um dia, eu ia passando e percebi Nhô Mingo sentado lá, quieto, preocupado. Então, eu perguntei:
- O que tá acontecendo, Nhô Mingo? Parece triste…
- É, uma turma aí, a mando do coronel, anda me cercando.
- Não se assuste - eu disse para Nhô Mingo - Deixe a turma que venha, olha aqui a minha carabina. Nhô Mingo pensou um pouco e perguntou:
- Tem bala?
- Tem - eu respondi. Daí ele gritou lá pro rapaz do armazém:
- Ô Vicente, traga uma caixa com sessenta balas.
Então eu mandei recado para turma que, se fosse homens, que descessem. Quando o rapaz saiu com o meu recado, chegaram mais três Nogueiras, Atílio, Aparício e Aristarco. Ficamos os quatro ali, esperando horas pela turma. Mas não apareceu ninguém.
Depois de alguns dias, o coronel foi falar com o meu pai:
- É, Didi, tivemos uma encrenca com o Mingo Buava[3](o mesmo Mingo Nogueira) e o vosso filho mandou um recado para mim… O recado não está jogado fora. Qualquer hora eu vou conversar com ele. - Meu pai respondeu:
- Saiba como conversa com o Dito, coronel, ele é bom atirador e tem apenas pouco mais de quinze anos…
O coronel nunca veio falar comigo, mas me marcou pelo resto da vida.
Ao ser interrogado sobre a razão por que Dito achava que o coronel o teria marcado, ele respondeu:
Um dia, depois do incidente com Nhô Mingo, o coronel disse a uma pessoa lá na cidade:
- O filho do Moscardini nunca vai arranjar nada comigo, e nunca vai conseguir nada aqui em Joanópolis.
Quando eu soube disso, eu mandei um recado para ele pela mesma pessoa:
- Diga lá pro coronel que eu não preciso dele, e que o dia que Joanópolis não me servir eu vou m´embora, mas fora daqui ninguém me põe. Quando eu morrer, se for sepultado aqui, não vai ser nenhuma novidade para ninguém.
Ao perguntar-lhe se era verdade que Joanópolis fora terra de pistoleiros no passado, Dito confirmou que sim e, ao mesmo tempo, acudiram-lhe outras histórias do passado, igualmente incríveis.
O episódio que se desenvolveu entre Dito e o coronel por causa de Nhõ Mingo Nogueira não é uma típica história de pistoleiros. Sua defesa do velho Nogueira revela simplesmente que Dito reagiu contra o abuso dos direitos do indivíduo e em defesa de uma justiça social. Se o velho Nogueira foi abusado por uma autoridade, Dito, em sua mente ainda jovem, julgava-se com o direito de abusar dessa mesma autoridade. Os direitos de igualdade deviam ser aplicados a todos os cidadãos. No seu raciocínio, o coronel não tinha o direito de impedi-lo de ser bem-sucedido em Joanópolis, onde ele havia nascido. Se Dito desafiou o coronel no caso do velho Nogueira, foi unicamente em defesa dos direitos de um cidadão que, vencido pela idade, não tinha forças para confrontações físicas.
1. HARRIS, Terry Gonçalves. Prisioneiros de um sistema. São Paulo: Ed. pensieri,1994. p. 204.
2. ______. Prisioneiros de um sistema. São Paulo: Ed. pensieri,1994. p. 170-172. Extraída de gravação feita pela autora ao entrevistado Dito (Moscardini) em sua residência, quando ele estava com 82 anos de idade.
3. MINGO, dimin. carinhoso de Domingos. Admite desin. diminutiva: Minguinho, Mingóte. BUÁVA, q. - designa o indivíduo português, nem sempre com intuito depreciativo. | Há também imbuáva, no Norte do Estado de SP. - A forma literária "emboaba", grafia antiga do voc. indig., é ignorada do vulgo
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