sábado, 23 de outubro de 2010

OS AMIGOS LUCAS NOGUEIRA GARCEZ E JOAQUIM CÂMARA FERREIRA


VIDAS
Ficaram amigos quando estudantes. Ao chegar à maioridade, tomaram rumos diferentes na escolha política, um como liberal de senso humanitário, outro encaminhando-se para esquerda, e logo para o PCB em período bastante radical. Mas o fizeram, coisa incomum então e por décadas adiante, sem macular a amizade e sem perder o convívio. Assim foi desde os primeiros anos 30 do século passado. Em muitas ocasiões, sob os riscos de desafiar a repressão ditatorial, fosse a de Getúlio ou a dos militares.
Já como o caçado Toledo do comando da ALN, que fundara com Marighela, Joaquim Câmara Ferreira soube que o filho atendera a todas as exigências para ver-se admitido em cargo técnico da Cesp, a energética paulista, mas tivera o acesso barrado por ser filho de quem era. Câmara telefonou para o presidente da empresa e narrou-lhe, por certo com o jeito sereno de sempre, o ocorrido ao filho.
A sequência não tardou. Lucas Nogueira Garcez telefonou para o general Médici, no auge furioso da ditadura. Não lhe tomou o tempo: "Presidente, quero avisá-lo de que estou nomeando o filho de Joaquim Câmara Ferreira. Se houver reação, eu me demito".
O episódio, que dispensa saberem-se as providências do ditador, diante da ousadia, para evitar a demissão, foi narrado por familiares de Joaquim Câmara Ferreira à margem da cerimônia com que a Câmara Municipal de São Paulo o homenageou.
Discreto e pacato, Lucas Nogueira Garcez merece ser lembrado por mais do que os altos méritos do seu governo em São Paulo. Foi, tanto quanto amigo, um homem de caráter. Ou aquilo porque isto.

http://www2.sinal.org.br/informativos/show_sumula.asp?codigo=67050&tema=Pol%EDtica%20Nacional&tipo=J&data=&dt_dia=19&dt_mes=10&dt_ano=2010#inicio

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